Vivemos
com a Igreja três domingos correspondentes a temas muito caros à vida
cristã, em vista da celebração dos Sacramentos de Iniciação, prevista
para a Vigília Pascal. As pessoas que serão batizadas na Páscoa estarão
diante de Jesus Cristo, aquele que oferece a Água Viva, Jesus, Luz do
Mundo, o mesmo que se revela Ressurreição e Vida, quando se dirige a
Betânia, casa de seus queridos amigos Lázaro, Maria e Marta (Jo 11,
1-45). Betânia foi um lugar de experiências muito felizes e profundas de
Jesus com seus discípulos. Tudo indica que era uma casa em que se
sentiam à vontade, espaço de intimidade e liberdade. Podemos imaginar a
visita feita por Jesus, quando a Marta pressurosa até reclama por sua
irmã de dedicar tanto à escuta do Mestre, ou os diálogos em torno de uma
mesa de almoço.
Jesus fizera voltar à vida a filha de Jairo e o filho único da viúva de
Naim. Mas agora, trata-se de um amigo pessoal, com quem certamente terá
partilhado confidências. É neste clima de intimidade, no qual se
envolviam as duas irmãs de Lázaro, que acontece a revelação de Jesus
como Ressurreição e Vida. Jesus mostra quem ele é e realiza o milagre do
retorno à vida desta terra de seu amigo Lázaro. Certamente a
compreensão dos Sacramentos e da presença salvífica de Jesus na vida dos
cristãos pode acontecer também em ambientes de convivência fraterna e
amiga a que somos convidados.
Sinais da vida que vence a morte estão espalhados por toda parte. Em
Jesus, Senhor e Salvador, identificamos a cura das enfermidades, o
controle das forças da natureza e a vitória na luta renhida contra o
demônio. Os sete sinais relatados pelo Evangelho de São João, que assim
chama os milagres, passam por diversas situações humanas, dando-nos uma
visão do alcance da ação do Senhor. Água se transforma em vinho, nas
Bodas de Caná (Jo 2,1-12); o filho de um funcionário real é curado
também em Caná (Jo 4, 46-54); um homem doente havia trinta e oito anos é
curado por Jesus (Jo 5, 1-18); Cinco pães e dois peixinhos são
multiplicados para uma multidão (Jo 6, 1-15); Jesus caminha sobre o mar
da Galileia (Jo 6, 16-21); Um cego de nascença recupera a vista (Jo 9,
1-41). O sétimo sinal anuncia a própria Ressurreição de Jesus. Lázaro,
que volta à vida, representa o homem renascido pela fé em Jesus Cristo.
Muita gente acompanha, além de Marta, Maria e os Discípulos, o que Jesus
fez. Também a mudança profunda que acontece na vida do cristão é
acompanhada pela Comunidade, que o apoia e sustenta. A morte já está
vencida, pela vitória de Jesus Cristo. O tempo novo se inaugura quando
Jesus se afirma Ressurreição e Vida.
Para chegar à profunda profissão de fé, feita por Marta, irmã de
Lázaro, houve um caminho percorrido pelas pessoas envolvidas nos fatos.
Daí recolhemos alguns ensinamentos preciosos. A amizade foi ponto de
partida para um relacionamento profundo estabelecido entre a família,
Jesus e seus discípulos. Nosso encontro com o Senhor pode também partir
de coisas simples, de diálogos em que a vida, o serviço, os dramas
familiares, as questões ligadas ao trabalho, ou o simples bate-papo pode
ser início do aprofundamento do sentido da vida, para sermos então
conduzidos ao Senhor. Não se jogue fora qualquer oportunidade para
lançar sobre pessoas e fatos a luz do Evangelho, para chegar à confissão
de Jesus como Ressurreição e Vida.
As notícias correm! Jesus ficou sabendo da situação de Lázaro, com o
qual tinha um relacionamento sincero e profundo. O Senhor sabe a glória
de Deus se manifestará. Vive cada momento com dignidade e seriedade, sem
precipitações, sabendo a hora de tomar as decisões. Seus discípulos de
ontem e de hoje aprendem com o Mestre o caminho do discernimento,
fundamental para que os acontecimentos não se precipitem. Hão de repetir
muitas vezes, com o Tomé da decisão, mais do que o homem da dúvida:
“Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11,16). Será uma história
muitas vezes tensa, cheia de crises, idas e vindas, quedas e
soerguimento. É muito bom fazer esta estrada, sabendo que nunca
estaremos sozinhos para chegar à Ressurreição e à Vida.
Chegados com Jesus e seus discípulos a Betânia, nós também estamos em
casa de pobres, o que significa este nome. Recolhemos todo o luto e o
drama que significa a morte, sejam quais forem as circunstâncias. Os
costumes da época, com carpideiras a clamar, ou mesmo os velórios de
todos os tipos de nosso tempo, enfeitados ou maquiados, ou quem sabe os
fornos crematórios postos em moda, mas morte é morte! Um dia, seremos
desafiados a chamá-la irmã, com São Francisco, ou nos tornarmos os mais
dignos de dó (Cf I Cor 15, 12-26), por sermos homens e mulheres sem
esperança. O cristão entra de cabeça e coração nas situações humanas,
não usa subterfúgios para explicá-las, gosta da verdade e as enfrenta
com honestidade. Choro e lágrimas não fazem mal a ninguém! O que faz mal
é enrolar a nós mesmos e aos outros. Nesta estrada da verdade,
chegaremos à Ressurreição e à vida plena.
O Evangelho de São João nos conduz pelas mãos, para aprender de Jesus.
Ele consola as duas irmãs, ouve seus lamentos, chora com elas, provoca a
profissão de fé, que precede o milagre! Jesus identifica em Marta a fé
na ressurreição e a conduz a professar sua fé atualizada naquele que é
Ressurreição e Vida. Queremos também nós recolher as sementes da fé que
são o fruto da graça recebida no Batismo, tantas vezes guardada e não
praticada. Mas ela está dentro de cada homem e de cada mulher que
recebeu o Sacramento. Nasce um convite renovado a tantas pessoas que se
esqueceram, por muitos e variados motivos, da graça recebida. Pode ser
esta a hora da graça, nesta Quaresma e na Páscoa que se aproxima, para a
reconciliação com Deus e com a Igreja. Nosso convite toque na liberdade
de cada pessoa, antes de prometermos coisas extraordinárias, até porque
o mais extraordinário já aconteceu na Páscoa daquele que é Ressurreição
e Vida.
Jesus é Mestre, Catequista, Senhor e Irmão! Duas vezes chorou,
comovendo-se interiormente. Deus, sim, mas Homem verdadeiro, com
sensibilidade apurada. Vamos com Ele a todos os sepulcros! Mesmo diante
das situações nas quais a morte do corpo e da alma dá sinais de
putrefação – “Já cheira mal, é o quarto dia” (Jo 11, 39), soa a hora da
esperança. Não há pedra de sepulcro, sentença de condenação que resistam
àquele que é Ressurreição e Vida. Chegue a todos os ouvidos o convite:
“O Mestre está aqui e te chama” (Jo 11, 28). Que o Senhor ressuscitado
grite a todos os homens e mulheres que saiam de sua inércia e se deixem
desamarrar pela ação da Igreja, para conhecerem aquele que é a
Ressurreição e a Vida.
Os sinais da Páscoa de Cristo se multipliquem, para que nos abramos à
sua graça. O oitavo sinal está à disposição! É a Eucaristia de cada
Domingo, onde se encontra aquele que é Ressurreição e Vida.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
Fonte: http://www.rccbrasil.org.br/espiritualidade-e-formacao/index.php/artigos/1178-eu-sou-a-ressurreicao-e-a-vida
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