“Na
própria Bíblia, houve um caso notável de alguém que acreditou ser Maria
superior a todas as outras mulheres. O equívoco não foi adiante, porque
o comentário foi feito ao próprio Jesus, que imediatamente colocou as
coisas em seus devidos lugares. ‘E aconteceu que dizendo ele estas
coisas, uma mulher entre a multidão, levantando a voz, lhe disse: ‘Bem
aventurado o ventre que te trouxe e o peito em que mamaste’. Mas ele
disse: ‘Antes, bem aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a
guardam’ (Lc 11:27,28)” (pág. 17)
Pareceu-me
uma contradição: primeiramente o senhor diz que “Bem aventurada” não é
um título extraordinário e que este termo não “faria Maria maior que
outra pessoa” (pág. 16). Entretanto, no comentário sobre o episódio de
Lc 11,27-28, assim está:
“Uma
mulher dentre a multidão que ali estava, impõe sua voz, enaltecendo
Maria acima das expectativas de Jesus e das pretensões bíblicas” (pág. 17)
Como
assim “acima das expectativas” se a mulher apenas disse: “Bem
aventurado”? Por que é que o senhor interpreta o mesmo termo
“bem-aventurado(a)” com dois sentidos tão diferentes? Com uma
interpretação para cada ocasião?
Mas
isso não é o principal. Vamos ao conhecimento da Igreja sobre essa
perícope: “Ora, tal motivo de exaltação (que Jesus fez) se aplica
eminentemente a Maria Santíssima, que, sem dúvida, recebeu a graça de se
tornar Mãe do Verbo encarnado, porque primeiramente se mostrou em tudo
fiel serva do Senhor; diz Santo Agostinho: ‘Mais feliz é Maria por ter
vivido inteiramente a fé do Messias do que por ter concebido a carne do
Messias’(Ed. Migne Lat. 40,398). À Luz deste princípio, entendam-se as
palavras de Jesus: o Senhor quer erguer a estima a Maria sobre o aspecto
mais digno e rico que a Mãe de Deus possa apresentar à consideração dos
cristãos” (D. Estevão Bettencourt, OSB, Curso sobre parábolas e páginas
difíceis dos Evangelhos, mód.10 pág.182). Jesus reponde que a
verdadeira felicidade consiste em ouvir a Palavra de Deus e observá-la.
Logicamente não excluiu sua Mãe, mas mostra que a verdadeira
superioridade dela está no fato de ter sido uma mulher de fé: “Bem
aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45); “E sua mãe conservava no
coração todas essas coisas” (Lc 2,51).
A
honra à Maria deve ser dada primeiramente por causa de sua fé e depois
por causa da gestação divina. Afinal, ela só ficou grávida do Senhor
porque acreditou. Quando a Igreja nos põe Maria como exemplo a ser
imitado, claro que não é o exemplo de ser Mãe do Filho de Deus que
deveremos imitar (pois isso nos será impossível!), mas é o exemplo da
fé, da confiança em Deus que a jovem Maria tinha. E é isso que o Senhor
quer demonstrar. Perceba que Ele
não disse que Maria não era bem-aventurada, mas disse que antes,
bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam. Maria é
bem aventurada duas vezes: primeiro porque acreditou (cf. Lc 1,45),
segundo porque deu à luz o Filho de Deus (cf. Lc 11,27).
“O
nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que
a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé”
(Santo Irineu, Catecismo da Igreja Católica, § 494).
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